
Os Amantes (Les Amants), de Louis Malle (França, 1958)
Um marco do cinema moderno, vencedor do prêmio especial do júri em Veneza no ano de 1958, Os Amantes trata de um tema atual, mas não novo: a questão da liberdade feminina. Além dessa questão, que por si só já é algo louvável nos idos anos 1950, o filme conta com Jeanne Moureau em começo de carreira, além da trilha sonora de Brahms. Sinteticamente, a fita trata da história de Jeanne (Jeanne Moureau), uma mulher que vive em Dijon e é vítima da indiferença do seu marido, o frio e incerto Henri (Alain Cuny). Então ela começa a ir a Paris, ficar com sua amiga Maggy (Judith Magre), uma mulher “moderna”. Lá, conhece Raoul (José Luis de Villalonga), um jogador de pólo e o inverso da medalha de seu marido. O filme apresenta algumas idéias geniais que resumem o espírito de época em poucas palavras, como, por exemplo, quando Henri diz para Jeanne que “sempre” é uma palavra de mulher, e ela replica dizendo que “diversão” é uma palavra de homem. Um par de oposição criativo e verdadeiro. Um ponto interessante de se notar é o papel da vaidade, que em trechos do filme, aparece como um sinal de liberdade – seria desnecessário notar que a vaidade em excesso também é uma prisão. Além disso, em certo momento, Jeanne decide visitar o marido no jornal em que ele trabalha e lá se depara com a sua secretária, que em suas palavras é “uma mulher de sorte”, pois trabalha. Ademais, a indiferença do marido a liberta, possibilitando que ela vá a Paris ver a amiga e o amante com frequência. E aqui há outro ponto a se destacar: a liberdade desses parisienses. A amiga Maggy parece ter aquele tipo de liberdade tipicamente solitária – ainda que sempre estivesse acompanhada –, alienada e fútil. O amante é um bom-vivant. A frase da narradora é fulminantemente verdadeira e aterradora: “Um marido abominável e um amante que beira o ridículo”. E Jeanne, aqui, resolver ser outra pessoa, uma pessoa de fato livre – apesar de discordar veementemente de algumas de suas decisões. Pararei por aqui, já que espero que quem ler esse texto, veja o filme. No entanto, expressemos: não há que temer a liberdade, apesar da liberdade nos dar medo. Um filme incômodo porque livre, ou livre porque incômodo? Se não temos a resposta da questão, resta nos dizer que, com esse filme, Malle nos dá um exemplo de compromisso. E, de fato, o Cinema tem o compromisso com a Arte e, portanto, com a Liberdade.
Léo.
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