quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Fim – do Cinema, da História e da Humanidade


Nosso tempo tem uma característica interessante: uma paixão pelo fim. Marx anteviu uma revolução para o fim da “pré-história da humanidade”. Weber, mais resignado, apontou para a nossa crosta de aço (jaula de ferro) dos tempos modernos. O mais recente, Francis Fukuyama decretou: o capitalismo é o fim da história. Vivemos numa era de aquecimento global, sinal do fim da humanidade. E, mais do que isso, já que as guerras, cada vez mais destrutivas, crescem. Os desastres naturais se intensificam e a crença no diálogo, a nossa esperança, cai por terra em qualquer reunião de cúpula mundial. Jean-Luc Godard, o camaleão cinematográfico, já disse: “Cinema is over”. Sua melancolia atual, característica de sua terceira fase, atesta-nos que o outrora revolucionário diretor se resignou. Disse ele que “houve um tempo em que o cinema poderia ter melhorado a sociedade, mas esse tempo passou”. E o cinema engajado, inclusive no próprio Brasil, inspirado pelo Cinema Novo de Glauber Rocha, tem, notoriamente, perdido espaço. Não me parece coincidência que tantas e diversas perspectivas convirjam à toa para o ponto final. A indagação é: por quê? Será que é culpa de um destino certo e trágico? O ser humano é realmente tão fraco perante suas próprias criações? Isso é paradoxal. Voltemo-nos para o Cinema. No auge da diversificação tecnológica e, portanto, do acesso à imagem e do experimentalismo, será que o Cinema perdeu esse potencial crítico? Godard coloca o Cinema no âmbito da Arte, ou seja, da liberdade, da exceção. No entanto, coloca a Indústria Cinematográfica – que aqui pode ser entendida como Indústria Cultural à Escola de Frankfurt – no âmbito da Cultura, ou seja, das regras. A cultura “normal”, aquela que se preocupa com o lucro e fórmulas, venceu a Arte, segundo Godard. As regras venceram a liberdade. No entanto, eu apostaria nessa possibilidade de pluralidade das imagens. A Cultura venceu a Arte porque uma era “normal” e a outra “exceção”. Nos tempos de hoje, a Cultura, cada vez menos monopolizada no quesito imagens, pode deixar de ter essa hegemonia. A exceção vira regra e Godard é salvo. Fácil não é, porque há outras questões, como a ideologia. Mas isso é outra história. O que importa é deixarmos essa paixão pelo “fim”, e nos voltarmos para nós mesmos, autores de nossas vidas.


Léo.

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