segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Guerra ao Terror (The Hurt Locker), de Kathryn Bigelow (EUA, 2008)


O mesmo Iraque, sob nova ótica

Desde que os EUA invadiram o Iraque, em 2003, Hollywood produziu diversos filmes com a temática da guerra e do terrorismo. No entanto, não se focava nos combates em si, no dia-a-dia dos soldados, nas missões; eram mostrados os bastidores ou cidadãos comuns que tiveram suas vidas alteradas pelos conflitos. Esse é, sem dúvida, o primeiro mérito de Kathyn Bigelow. A partir do ótimo roteiro de Mark Boal, a diretora nos mostra a vida dos soldados sem os clichês, a visão manipuladora ou a típica forçação de barra anti-Bush de outros filmes. Mas esse não é o único ponto positivo do filme de Bigelow. Apesar do título genérico em português – as distribuidoras nunca vão acertar isso, impressionante –, a trama foca em uma equipe que trabalha no desarmamento de bombas no Iraque, o sargento Thompson (Guy Pierce), especialista morre ao tentar desarmar uma, sendo substituído pelo protagonista, sargento James, em atuação excelente de Jeremy Renner. James é viciado em adrenalina, parece apreciar as situações de extremo risco e buscá-las, sendo irresponsável em diversos momentos e colocando em risco a vida de sua própria equipe – o sargento Sanborn (Anthony Mackie) e o especialista Eldridge (Brian Geraghty). Bigelow apresenta um retrato profundo dos personagens, mostrando-nos como cada um encara a guerra e as consequências de seus atos para o grupo. A direção é ao mesmo tempo segura e extremamente competente. Com a câmera na mão, Bigelow consegue captar cada situação de maneira muito eficiente – como nos dois brilhantes usos que faz da câmera lenta – e, aliada ao bom elenco, traz a dor e o desespero de seus personagens, contando os dias para a volta para casa. O que mais encanta é o personagem de Renner. O sargento James mostra um outro lado, o oposto do que se poderia pensar de um soldado num conflito controverso como é o do Iraque. Cotado para diversas indicações ao Oscar e prováveis vitórias, o filme faz por merecer – ainda mais levando em conta que é produção independente –, especialmente sua diretora e o protagonista. Não vi Redacted (2007), o elogiadíssimo retrato da guerra do Iraque de Brian De Palma, mas até agora, Guerra ao Terror parece a obra definitiva de um conflito que parece ter potencial para render muito mais nos cinemas.

PS: a grande pena fica por conta das distribuidoras brasileiras (sempre elas), que não deram a atenção merecida ao filme, lançando-o somente em DVD, antes mesmo do lançamento nos EUA. Se as indicações ao Oscar se confirmarem, fica a torcida para um lançamento nos cinemas.

Cotação: ****½ (4,5/5)


Zé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário