segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Fita Branca (Das Weisse Band – Eine Deutsche Kindergeschichte), de Michael Haneke (Alemanha/Áustria/França/Itália, 2009)


Crimes em uma Alemanha feudal

Numa aldeia do norte da Alemanha, no ano que precede a Primeira Guerra Mundial, começam crimes que violentam a moral ascético-protestante dos habitantes. A questão que ronda o filme é, num primeiro momento, aquela típica de Gilberto Braga: quem são os criminosos? No entanto, há mais do que isso, já que segundo o diretor, o filme é sobre “as raízes do mal”. Este é o filme A Fita Branca premiada com a Palma de Ouro em Cannes no ano passado. Michael Haneke, diretor do insípido, insosso e inodoro Caché (2005), traz, novamente, a idéia de tensão à grande tela. O filme de Haneke é um filme de alguém que realmente sabe dirigir. As tomadas são boas, a filmagem também o é – embora, às vezes, o filme tenha ficado escuro demais – e os atores estão bem, embora nenhum se destaque – talvez apenas o conjunto de crianças. É impossível não se lembrar de Ingmar Bergman – penso aqui em Luz de Inverno (1962). Ambos os filmes nos trazem pessoas frias que enfrentam crises, embora as crises sejam de naturezas diferentes. E é nesse ponto que reside o problema de Haneke: a sua tensão é falha. Citemos os próprios personagens que, se enfrentam uma tensão, esta não é grande o suficiente para sustentar e justificar o filme, já que os mesmos não chegam nem a se questionar sobre as suas próprias atitudes, nem sobre as atitudes dos demais. Outro fato reside na própria opção de narrativa de Haneke, que deu o encargo a um personagem, que viria a narrar o filme como uma espécie de memória. Assim, diferentemente da tensão (também insuficiente) de Caché, onde não há narração externa e temos só o uno protagonista como o vivente da tensão, em A Fita Branca, o mecanismo de narração distancia um pouco esse elemento que, no cinema de Haneke, é fulcral. Ademais, como Caché, o filme tem um final “aberto”. E aqui é um ponto altamente problemático, pois, se por um lado, não se deve cobrar um final necessariamente amarrado, por outro, não é possível que um cineasta filme 140 minutos e não se digne a fazer um final. Se o filme, como dizia Godard, “deve ter início, meio e fim, mas não necessariamente nessa ordem”, o filme de Haneke também peca, porque não tem fim. Entendamos “fim” aqui como um fim não apenas fílmico (que todo filme tem, já que o filme necessariamente acaba), mas de enredo em si. O filme tem o mérito de expor com clareza estupenda a questão da desigualdade social predominante na Alemanha de então, e parece, embora o diretor austríaco diga o contrário, uma possível explicação do início do nazismo – não entraremos nesse mérito, já que daria uma longa discussão. Um filme com a assinatura estranha de Haneke.

Cotação: *** (3/5)


Léo.

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