sexta-feira, 12 de março de 2010

O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos), de Juan José Campanella (Argentina/Espanha, 2009)


Amor e seus crimes em uma Argentina sombria

O filme do argentino Juan José Campanella, vencedor do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, é um ótimo filme. Mais do que um thriller, é uma história (possível) de vida de Benjamin Espósito (Ricardo Darín). Seria injusto dizer que é um filme apenas policial – alguns, inexplicavelmente, parecem depreciar o filme por essa razão –, já que tem uma boa parte de drama, como quando Espósito pergunta “como fizer uma vida cheio de nada?”. O Segredo dos Seus Olhos também é um filme de amor. Sim, porque o crime foi passional, a reação a ele também foi, assim como o próprio crime traz Espósito de volta para a sua possível história de amor. O enredo é muito bom, mostrando idas e vindas dos personagens, culminando numa montagem interessante, porque, se a história é importante, como contá-la também o é. Interessante também notar como o filme assume a sua nacionalidade, fazendo auto-referências constantes a própria cultura do país. A impressão que temos é que o filme só poderia se passar na Argentina, já que todos os personagens são típicos porteños. É fundamental notarmos como os meandros da justiça e a época da última ditadura no país são tratados de forma econômica, quase independente, o que confere ao filme apenas o contexto necessário para o desenrolar da história – algumas pessoas esquecem que nem todos os filmes que se passam durante períodos ditatoriais são sobre período ditatoriais. A história de Espósito, um homem em crise de meia-idade com pretensões literárias, que voltou a encontrar o seu amor dos tempos de jovem, a bela doutora Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil) é uma história fascinante. A atuação de Ricardo Darín é ótima, uma atuação realmente expressiva e equilibrada, como uma crise de meia-idade deve ser retratada. As demais interpretações também são muito boas. A fotografia do filme também é bastante rica e interessante. Um dos destaques, sem dúvida, é a perseguição dos policiais ao suspeito durante um jogo entre Huracán e Racing. E, como não poderia deixar de ser, os olhos tem papéis fundamentais na expressividade do filme. As trocas de olhares entre Irene e Espósito são um belo exemplo disso. Um filme verdadeiramente elegante, que mostra que a América do Sul não é vítima da famigerada “estética da pobreza”.

Cotação: **** (4/5)


Léo.

sábado, 6 de março de 2010

Oscar 2010 - Apostas


- Canção:

Vencedor: The Weary Kind (Theme From Crazy Heart), de Coração Louco, música e letra de Ryan Bingham e T-Bone Burnett

Almost There, de A Princesa e o Sapo, música e letra de Randy Newman ***
Down In New Orleans, de A Princesa e o Sapo, música e letra de Randy Newman ****
Loin De Paname, de Paris 36, música de Reinhardt Wagner e letra de Frank Thomas
Take It All, de Nine, música e letra de Maury Yeston ****


- Roteiro Adaptado:

Vencedor: Amor Sem Escalas, de Jason Reitman e Sheldon Turner **½

Distrito 9, de Neill Blomkamp e Terri Tatchell ****
Educação, de Nick Hornby ***½
In the Loop, de Jesse Armstrong, Simon Blackwell, Armando Iannucci e Tony Roche
Preciosa – Uma História de Esperança, de Geoffrey Fletcher ***


- Roteiro Original:

Vencedor: Guerra ao Terror, de Mark Boal ****½

Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino ****
O Mensageiro, de Alessandro Camon e Oren Moverman
Um Homem Sério, de Joel Coen e Ethan Coen ****
Up – Altas Aventuras, de Bob Peterson, Pete Docter e Tom McCarthy ***½


- Filme em Língua Estrangeira:

Vencedor: A Fita Branca - Alemanha *****

Ajami - Israel
A Teta Assustada - Peru ***½
O Profeta - França ****½
O Segredo dos Seus Olhos - Argentina ***½


- Atriz Coadjuvante:

Vencedora: Mo’Nique, em Preciosa – Uma História de Esperança ****½

Penélope Cruz, em Nine **½
Vera Farmiga, em Amor Sem Escalas ***
Maggie Gyllenhaal, em Coração Louco
Anna Kendrick, em Amor Sem Escalas ***


- Ator Coadjuvante:

Vencedor: Christoph Waltz, em Bastardos Inglórios *****

Matt Damon, em Invictus
Woody Harrelson, em O Mensageiro
Christopher Plummer, em The Last Station
Stanley Tucci, em Um Olhar do Paraíso


- Atriz:

Vencedora: Sandra Bullock, em Um Sonho Possível

Helen Mirren, em The Last Station
Carey Mulligan, em Educação ****
Gabourey Sidibe, em Preciosa – Uma História de Esperança ****
Meryl Streep, em Julie & Julia


- Ator:

Vencedor: Jeff Bridges, em Coração Louco

George Clooney, em Amor Sem Escalas ***
Colin Firth, em Direito de Amar
Morgan Freeman, em Invictus
Jeremy Renner, em Guerra ao Terror ****½


- Direção:

Vencedor: Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow ****½

Avatar, de James Cameron ***½
Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino ****
Preciosa – Uma História de Esperança, de Lee Daniels ***½
Amor Sem Escalas, de Jason Reitman ****


- Filme:

Vencedor: Guerra ao Terror ****½

Avatar ***
Um Sonho Possível
Distrito 9
****
Educação ****
Bastardos Inglórios ****
Preciosa – Uma História de Esperança ***
Um Homem Sério ****
Up – Altas Aventuras ***½
Amor Sem Escalas ***



Zé.

Oscar 2010 - Apostas


Neste domingo (7), realiza-se no Kodac Theatre, em Los Angeles, a maior premiação do cinema norte-americano, o Oscar – ou prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Há quem diga que o ele já foi mais sério, outros alegam que injustiças são cometidas regularmente, mas ninguém nega a importância da festa para a indústria do cinema de Hollywood.
E, como todos nós gostamos de apostar e torcer, aqui vão minhas apostas para todas as categorias do Oscar 2010.
PS: as cotações dadas são referentes a cada categoria específica, não ao filme como um todo – a não ser nas categorias Filme, Filme em Língua Estrangeira, Animação, Animação em Curta-Metragem e Documentário, claro.
PPS: a ausência de cotação indica que eu não vi o filme.


- Direção de Arte:

Vencedor: Avatar ***

O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus
Nine ***½
Sherlock Holmes
The Young Victoria


- Maquiagem:

Vencedor: Star Trek

Il Divo ****
The Young Victoria


- Figurino:

Vencedor: Brilho de Uma Paixão

Coco Antes de Chanel
O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus

Nine ****
The Young Victoria


- Fotografia:

Vencedor: Avatar ***

Harry Potter e o Enigma do Príncipe ****
Guerra ao Terror ****
Bartardos Inglórios ****
A Fita Branca *****


- Documentário:

Vencedor: The Cove ****

VJs de Mianmar – Notícias de Um País Fechado
Food, Inc. ***
The Most Dangerous Man in America – Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers
Which Way Home



- Documentário em Curta-Metragem:

Vencedor: China’s Unnatural Disaster – The Tears of Sichuan Province

The Last Campaign of Governor Booth Gardner
The Last Truck – Closing of a GM Plant
Music by Prudence
Rabbit à la Berlin



- Montagem:

Vencedor: Avatar ***½

Distrito 9 ****
Guerra ao Terror ****
Bastardos Inglórios ****½
Preciosa – Uma História de Esperança ***


- Montagem de Som:

Vencedor: Avatar *****

Guerra ao Terror *****
Bastardos Inglórios ****
Star Trek
Up – Altas Aventuras ***½


- Mixagem de Som:

Vencedor: Avatar *****

Guerra ao Terror *****
Bastardos Inglórios ****
Star Trek
Transformers – A Vingança dos Derrotados


- Efeitos Visuais:

Vencedor: Avatar *****

Distrito 9 ****½
Star Trek


- Animação:

Vencedor: Up – Altas Aventuras ***½

Coraline e o Mundo Secreto ****
O Fantástico Sr. Raposo ****½
A Princesa e o Sapo ***
The Secret of Kells ****


- Animação em Curta-Metragem:

Vencedor: French Roast ****½

Granny O’Grimm’s Sleeping Beauty ****
La Dama y la Muerte ****½
Logorama
Wallace & Gromit – Uma Questão de Miolo e Morte


- Curta-Metragem:

Vencedor: Kavi

The Door
Instead of Abracadabra
Miracle Fish
The New Tenants



- Trilha Sonora:

Vencedor: Avatar ***

O Fantástico Sr. Raposo ****
Guerra ao Terror ****
Sherlock Holmes
Up – Altas Aventuras
****


Zé.


(continua)

Oscar 2010 - Apostas


Entrando na onda das apostas para o Oscar, que ainda é o prêmio mais levado em consideração pelo público, cá está minha lista.


Melhor FilmeAvatar (afinal, 500 milhões de dólares são 500 milhões de dólares e isso, infelizmente, conta para a premiação. A minha torcida na categoria fica por conta de Bastardos Inglórios)

Melhor Diretor – Kathryn Bigelow (Uma divisão “justa” entre o ex-casal. O Oscar tem aquela velha pretensão de agradar a gregos e troianos)

Melhor Ator – Morgan Freeman (Aposto nessa “zebra”. O carisma de Mandela pode, na minha opinião, decidir a favor de Freeman. Além, é claro, da real possibilidade de Freeman ganhar nesta categoria, depois de 4 indicações)

Melhor Atriz – Sandra Bullock (Sim, ela mesma. E não me pergunte o porquê, já que nem ela mesma sabe o motivo)

Melhor Ator Coadjuvante – Christoph Waltz

Melhor Atriz Coadjuvante – Mo’Nique

Melhor Roteiro AdaptadoAmor Sem Escalas

Melhor Roteiro OriginalGuerra ao Terror

Melhor Filme em Língua EstrangeiraA Fita Branca (estarei torcendo muito por O Segredo dos Seus Olhos)


Léo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Seção Clássicos


Elogio ao Amor (Éloge de l’Amour), de Jean-Luc Godard (França/Suíça, 2001)

Jean-Luc Godard é daquele tipo raro de cineasta, que consegue fazer filmes infinitos. Alguns de seus filmes são, mais ou menos, como n’O Jogo da Amarelinha de Julio Cortázar, no qual um livro se desdobra em, pelo menos, dois. Entre os fracos Para Sempre Mozart (1996) e Nossa Música (2004), há uma pérola escondida na sua filmografia: Elogio ao Amor. O enredo – se é que podemos dizer que há, já que Godard desconstrói a linguagem cinematográfica – é aparentemente banal: um diretor procura três casais (um jovem, um adulto e um velho) para filmar um projeto, um filme. O filme seria sobre um dos quatro momentos do amor, que seriam segundo ele: o encontro, a paixão física, a separação e a reconciliação. E aqui Godard mostra a que veio, não se trata de amor no sentido mais usual do termo, daquele em que duas pessoas se unem de uma forma única. Assim, Edgar (Bruno Putzulu), o diretor, diz a sua mais jovem atriz: “Não é uma história de Eglantine (a personagem), mas a história (da juventude) acontecendo através dela”. Este é um dos elementos do Amor, segundo Godard, a História. Mas ela não poderá estar só, já que História pressupõe Memória, que pressupões Resistência. Essa é a tríade que explica o seu Amor. Por isso, o diretor dizia estar à procura da História, e não de “Julia Roberts” ou “Hollywood”. Todavia, as coisas não poderiam ser fáceis assim, a memória, como disse Henri Bergson, não tem obrigações. Assim, o Amor não as tem também. E pode vir daí a crítica de Godard, que poderia ser expressa do seguinte modo: a maioria das pessoas vivem sua vida e não as imaginam. Contudo, imaginar é também um modo de viver. É um modo de reconstrução da História, da Memória. A Memória só pode ser imaginada. E daí vem o sombrio fato de que “é estranho como a História foi substituída pela tecnologia”, ou no mais sombrio, dito por Edgar: “Philippe, os dias de frases acabaram”. No final deste último diálogo, Philippe (Philippe Lyrette) justifica o fato de chamar Edgar de senhor, apesar de ser mais velho: “Pode ser, mas ele (Edgar) é a única pessoa que está se transformando em adulto”. Vemos aqui a perda do idealismo de Godard, característica desta sua fase. Isso se reforça quando observamos as críticas políticas do filme. O diretor critica os americanos por não terem “nome” (são americanos, norte-americanos ou estadunidenses, do mesmo modo que um mexicano, ou canadense). E daí os americanos viriam a roubar a História dos demais. Os retratos da resistência católica e dos comunistas ganham o elogio de Godard, pois eles são formas de Amor, amour pour quelque chose. Outro fato importante para entendermos a importância da História é que nós estamos mudando sempre, e assim, a Memória se faz necessária. A História, feita por imagens, sons e indeterminações, como o filme de Godard. Assim, é simbólico quando uma personagem cita Santo Agostinho: “A medida de amar é amar sem medida”. Se amar é viver, imaginar, lembrar e resistir, amemos com Godard, mas com idealismo.



Léo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Fita Branca (Das Weisse Band – Eine Deutsche Kindergeschichte), de Michael Haneke (Alemanha/Áustria/França/Itália, 2009)


Crimes em uma Alemanha feudal

Numa aldeia do norte da Alemanha, no ano que precede a Primeira Guerra Mundial, começam crimes que violentam a moral ascético-protestante dos habitantes. A questão que ronda o filme é, num primeiro momento, aquela típica de Gilberto Braga: quem são os criminosos? No entanto, há mais do que isso, já que segundo o diretor, o filme é sobre “as raízes do mal”. Este é o filme A Fita Branca premiada com a Palma de Ouro em Cannes no ano passado. Michael Haneke, diretor do insípido, insosso e inodoro Caché (2005), traz, novamente, a idéia de tensão à grande tela. O filme de Haneke é um filme de alguém que realmente sabe dirigir. As tomadas são boas, a filmagem também o é – embora, às vezes, o filme tenha ficado escuro demais – e os atores estão bem, embora nenhum se destaque – talvez apenas o conjunto de crianças. É impossível não se lembrar de Ingmar Bergman – penso aqui em Luz de Inverno (1962). Ambos os filmes nos trazem pessoas frias que enfrentam crises, embora as crises sejam de naturezas diferentes. E é nesse ponto que reside o problema de Haneke: a sua tensão é falha. Citemos os próprios personagens que, se enfrentam uma tensão, esta não é grande o suficiente para sustentar e justificar o filme, já que os mesmos não chegam nem a se questionar sobre as suas próprias atitudes, nem sobre as atitudes dos demais. Outro fato reside na própria opção de narrativa de Haneke, que deu o encargo a um personagem, que viria a narrar o filme como uma espécie de memória. Assim, diferentemente da tensão (também insuficiente) de Caché, onde não há narração externa e temos só o uno protagonista como o vivente da tensão, em A Fita Branca, o mecanismo de narração distancia um pouco esse elemento que, no cinema de Haneke, é fulcral. Ademais, como Caché, o filme tem um final “aberto”. E aqui é um ponto altamente problemático, pois, se por um lado, não se deve cobrar um final necessariamente amarrado, por outro, não é possível que um cineasta filme 140 minutos e não se digne a fazer um final. Se o filme, como dizia Godard, “deve ter início, meio e fim, mas não necessariamente nessa ordem”, o filme de Haneke também peca, porque não tem fim. Entendamos “fim” aqui como um fim não apenas fílmico (que todo filme tem, já que o filme necessariamente acaba), mas de enredo em si. O filme tem o mérito de expor com clareza estupenda a questão da desigualdade social predominante na Alemanha de então, e parece, embora o diretor austríaco diga o contrário, uma possível explicação do início do nazismo – não entraremos nesse mérito, já que daria uma longa discussão. Um filme com a assinatura estranha de Haneke.

Cotação: *** (3/5)


Léo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Invictus (idem), de Clint Eastwood (EUA, 2009)


Uma invencibilidade questionada

O novo filme de Clint Eastwood é decepcionante. Confesso que sempre tive certo preconceito com Eastwood devido ao seu passado western. No entanto, tenho que admitir que sua carreira como diretor estava, até então, impecável, já que ele tirou o melhor possível das histórias que dirigiu – se essas histórias são ou não boas, isso são outros quinhentos. Mas esse não é o caso de Invictus. O primeiro ponto é o próprio roteiro, que é absurdamente desigual, com alguns momentos realmente tocantes e outros completamente inexpressivos. Assim, o filme não traz nenhuma fagulha de tensão, nem nos momentos tocantes. As atuações de Matt Damon e Morgan Freeman também são desiguais. Freeman está muito bem – até o sorriso de Mandela foi bem interpretado. Por sua vez, Damon não me pareceu confortável no papel. Foi uma atuação apagada, que não trabalhou bem o fator do conflito racial sulafricano – o seu personagem não pareceu ser tocado pela questão. E aqui voltamos ao roteiro, portanto: de modo geral, não se trabalhou bem o conflito do fim do apartheid e nem possibilitou uma excelente atuação dos dois atores. Dessa forma, comprometeu o filme e, portanto, o trabalho do diretor. Um crítico escreveu que Eastwood dirigiu o filme em dois tons, ou seja, fez um filme desigual de forma proposital. Um primeiro de distanciamento proposital e, depois, viria a parte “tocante”. Se for assim – e não acho que seja – a primeira é fraca e a segunda insuficiente. O mérito da história (e não de Eastwood) é ressaltar que a Política não é algo exterior ao nosso dia-a-dia, não é feita somente nos altos escalões dos distantes palácios governamentais. Rugby, como futebol, é também Política. Assim, é gratificante para mim especialmente, ver que a Política pode ser tocante e inspiradora. Ah, para encerrar: Clint, meu caro, não existiam telas planas em 1995!


Cotação: ***½ (3,5/5)


Léo.

PS: Ler as críticas feitas por alguns sites com relação ao filme é realmente instrutivo. O medo da crítica por parte de alguns críticos deveriam fazê-los mudar o nome da profissão. No lugar de “críticos”, deveriam se chamar “elogiadores”. E, pior: alguns escrevem e nem sobre o filme falam, de tanto medo.